Violência das Famílias

Uma casa como um ventre, um interior para se proteger do frio, para se proteger do exterior. Doçura...Volto para casa, para a minha família.
Mas cuidado, ao aproximarmo-nos do lar, por vezes queimamo-nos... Mesmo quando aquece, a familía não é apenas o habitáculo doce e protector que se julga. Espaço onde se reúnem os familiares, local de confronto dos corpos, ela também é um espaço de incandescências e de todos os incêndios.
Teatro de paixões, a família também é uma tragédia. Mal de amor onde cada um de nós, um após outro, fica preso, engaiolado no desejo; amante ou amado, dominador ou dominado, carrasco ou vítima, porque é uma questão de guerra.
Guerra interna, pessoal, a que se entrega o nosso eu dividido, ou guerra a que se entregam os membros da família entre si. O muito próximo, o quase nó-mesmos, não será na verdade o que simulaneamente é o mais longínquo, o mais inacessível? Ele escapa-nos, é rebelde. Não agirá ele como um inimigo, como um outro que não nós? Não precisaremos de o destruir para que a nossa inquietação termine?
Seja no seio da família ou na cidade, a irrupção do outro convoca em nós as forças do mal, um para além do desejo; o prazer, esse mal de amor, esse apelo do corpo para morrer e para fazer morrer. Conscientes desta violência, não deveríamos então dizê-la para esperar controlá-la, escapar ao mal e amor e amar, simplesmente?
É esta a proposta desta obra.